Texto
postado originalmente no blog Academic, do Logos Bible
Software, no qual Tremper Longman III faz algumas observações sobre a
historicidade de Adão e Eva. Boa leitura...
O convidado do post de hoje é Tremper Longman III, o qual é o professor
da cadeira Robert H. Gundry de Estudos Bíblicos no Westmont College. Dr.
Longman recentemente filmou alguns cursos para o Logos Mobile Ed, e nós tivemos
a chance de conversar com ele sobre a historicidade de Adão.
Em 2009, Justin Taylor, no Gospel Coalition, meditava: “me pergunto
como Longman abordaria o ponto de senso comum colocado por N. T. Wright” no
qual Wright sugere que Paulo claramente cria em um Adão e uma Eva históricos,
mas via isto sob a luz da “dimensão mítica ou metafórica da história”. Nós
pedimos ao Dr. Longman para responder esta questão. Veja o post original de
Taylor em “Tremper Longman on the
Historicity of Adam”.
Em primeiro lugar, eu sei que são feitas referências a
Adão em importantes lugares tais como Romanos 5.12, mas a primeira coisa que
penso que devemos perceber é que Gênesis 1-2 não está interessado em dizer-nos como
Deus criou. Em vez disto, o texto está nos dizendo que ele o fez, bem
como muita coisa sobre quem ele é e sobre nossa relação com ele. Não estou
dizendo que o texto não é histórico – ele é. Considero-o história teológica.
Mas a diferença entre Gênesis 1-11 e Gênesis 12 em diante é que a história como
relatada em Gênesis 1-11 não pretende ser lida como sendo estrita e
precisamente literal. Nós vemos isto por todos os usos de linguagem figurativa,
a ausência de sequências concordantes entre relatos da criação e a interação
com os textos do antigo Oriente Próximo – não que os textos de Gênesis estejam
copiando dos referidos materiais, mas, antes, estão interagindo e realmente
polemizando contra as mesmas narrativas.
Se
este for o caso, então é bom olhar para a ciência para ver o que se está
dizendo sobre isto. Não estou dizendo que temos que aceitar a ciência, que a
ciência está sempre certa, que ela permanece estática ou coisa do tipo. Mas
para mim parece que existe boa evidência, especialmente baseada em dados
genéticos, que Deus utilizou-se da evolução. Assim, afirmo uma perspectiva
criacionista evolutiva.
Isto
levanta a questão do Adão histórico. Em minhas conversas com biólogos – e estou
falando de biólogos cristãos como Dennis Venema, Francis Collins e Jeff Schloss
de Wesmont – e em minhas leituras, as evidências sugerem que a evolução não
trabalha começando com um simples casal, mas em vez disto retorna a uma
“população reprodutiva” original de cerca de cinco a dez mil pessoas. Isto faz
surgir um questionamento sobre um possível conflito entre ciência e Bíblia. E
não me entendam mal – se a Bíblia diz uma coisa e a ciência diz outra, eu fico
com a Bíblia! Mas por outro lado, penso que deveríamos primeiro perguntar:
“estamos entendendo a Bíblia corretamente ao insistir nisto?”. É frequentemente
frisado que este é o erro fundamental que ocorreu no tempo de Galileu. Algumas
vezes a ciência pode refinar nosso entendimento do texto bíblico.
Para
mim, esta é uma questão de me dirigir a meus amigos biólogos cristãos e dizer:
“vocês estão errados por ensinarem estas coisas” ou se eu, como acadêmico
bíblico, deixo-os como acadêmicos bíblicos, ter a latitude de ensiná-lo. Mas
isto levanta a questão de como nós compreendemos Adão e Eva.
Existem,
basicamente, quatro posições nisto. A primeira é o criacionismo da terra
jovem: Adão e Eva foram o primeiro casal. Existe, então, o ponto de vista
do criacionismo da terra antiga: Adão e Eva foram o primeiro casal, mas
eles foram criados a muito mais tempo. Alguém como Tom Wright argumenta,
baseado principalmente no uso de Paulo de Romanos 5:12-21, que este considerava Adão
e Eva como um casal histórico. A visão atual do Wright, como eu a entendo a
partir de conversas com o mesmo, é que ele não adota uma posição similar às
duas primeiras que tenho descrito, mas antes que Adão e Eva seriam algo como um
casal representativo dentro daquela população reprodutiva. Eles não estavam
sozinhos. E, realmente, isto ajuda a explicar certas características de Gênesis
1-11, como com quem Caim se casou, de quem Caim estava com medo, etc. Assim,
esta é sua visão: eles foram um casal representativo real, como a rainha e o
rei. Ou poderíamos concebê-los como sacerdote e sacerdotisa, desde que Gênesis
1-2 também fala sobre o cosmos utilizando-se de um tipo de linguagem de templo.
Esta
pode ser a solução correta. Mas eu também concederia a possibilidade de que
Adão e Eva sejam representativos daquele casal original. O que eu
insistiria – lembre-se que penso que o texto é história no sentido de falar
sobre coisas que realmente ocorreram – que em algum ponto do processo
evolucionário estamos falando de um tempo quando os seres humanos tornaram-se
cônscios e capazes de escolhas morais. Nós os descreveríamos como inocentes até
pecarem. E eu também insistiria, porque penso que isto concorda com o gênero de
Gênesis 3, que houve uma queda histórica. Penso que estes são ensinos
importantes de Gênesis 1-3.
Agora,
nos termos de Romanos 5.12 e
seguintes, penso que é possível – e provavelmente o sugeriria – que, como Tom
admitiu em sua citação, existem elementos figurativos e que Paulo teria
reconhecido estes mesmos elementos na representação de Adão. Também apontaria
para outro proeminente acadêmico do Novo Testamento, James Dunn, o qual diz que
é ser condescendente achar que Paulo tinha que pensar que Adão e Eva
foram um casal histórico. Existem outros exemplos, no primeiro século, de uso
de personagens de um modo arquetípico.
Meu
bom amigo John Walton dirá sobre Adão que este foi uma figura arquetípica. E
sua afirmação seguinte é que arquétipos podem ser históricos, como
Melquisedeque no livro de Hebreus. Concordo que Adão é uma figura arquetípica,
mas também afirmaria que Adão não tem de ser histórico. Não estou insistindo
que Adão não seja histórico, mas apenas dizendo que se ocorrer de ele não o
ser, isto não solaparia a verdade de Gênesis ou Romanos 5.12 e seguintes.
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